Neste 8 de março, não desejamos parabéns nem entregaremos flores. Mas lembraremos da luta diária que as mulheres enfrentam para sobreviver numa sociedade ainda dominada pelo patriarcado.
Hoje, 8 de março, é dia de relembrar todo o processo histórico de lutas das mulheres por direitos fundamentais. A data ficou conhecida pelos sucessivos levantes, greves e mobilizações da classe operária e feminina em ter seus direitos equiparados ao dos homens.
Ainda no começo do século XX, em 1910, ocorreu o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, na cidade de Copenhague, Dinarmaca. Clara Zetkin, jornalista e política marxista alemã, junto com Alexandra Kollontai, revolucionária russa, já indicavam naquele evento a necessidade de ter o Dia Internacional da Mulher, com o propósito de pautar o tema para tratar de assuntos como o direito ao voto (movimento sufragista) e discutir medidas para alcançar a equidade de gênero. Só na década de 1970, que a Organização das Nações Unidas reconheceu a luta feminina e oficializou a data comemorativa como hoje conhecemos.
Os levantes femininos, vinculados aos movimentos operários do século XX, evidenciaram a precaridade em que as mulheres trabalhavam nas fábricas, no contexto da Revolução Industrial. Mais de 100 anos se passaram e as mulheres continuam lutando por direitos fundamentais. É preciso ainda discutir sobre a importância da criação de políticas públicas que consigam tratar da equidade de gênero, promover iniciativas de combate à violência sexual e ao feminicídio, conscientizar e compreender as reivindicações das mulheres sobre o direito ao próprio corpo, como a legalização do aborto e a visibilidade transgênera.

A desigualdade de gênero ainda está presente no mercado de trabalho
Semana passada o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou o resultado de um estudo, “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil” realizado em 2019. O levantamento revelou que 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais integravam a força de trabalho no país naquele ano. Já os homens representam 73,7%. O estudo revelou que uma das limitações das mulheres para inserção no mercado de trabalho estava relacionada, entre outros fatores, aos afazeres domésticos. Os cuidados com lar representam em média 30 horas de trabalhos semanais das mulheres, enquanto que apenas 15,6% dos homens apresentaram a mesma situação. O levantamento também indica uma desigualdade quanto à remuneração. Apesar das mulheres terem um maior nível de instrução superior (19,4%) em relação aos homens (15,1%), elas recebem entre 60% a 70% do rendimento salarial masculinos. Ou seja, mesmo mais capacitadas, ainda recebem menos que seus colegas de trabalho, mesmo em cargos de chefia.
Uma outra pesquisa promovida pela Think Olga revelou que mais da metade das empresas brasileiras abertas nos últimos três anos foram criadas por mulheres. Isto relaciona-se ao fato de que mulheres têm menos oportunidades de trabalho e, portanto, buscam empreender em seus próprios negócios. Dados apresentados pela Financial Alliance for Women (2018) revelam que a América Latina possui uma das maiores concentrações de mulheres empreendedoras do mundo, com cerca de 40% de todas as PMEs (pequenas e médias empresas). Contudo, a pandemia e a crise econômica trazem um sinal de alerta vermelho a estas iniciativas e o setor privado está sob ameaça.
Nos últimos anos, o setor privado tem se esforçado em promover campanhas para ressignificar esteróticos e combater violências simbólicas direcionadas às mulheres no meio corporativo. Mesmo com estimulos para promover e incentivar programas de contratação de mulheres em suas empresas, as disparidades salariais e de oportunidades entre homens e mulheres é alta. E a situação fica ainda mais preocupante quando a mulher assume o papel de cuidadora do lar e dos filhos, principalmente nesse momento de isolamento social.
É preciso tratar a equidade de gênero com responsabilidade e pensar em acordos flexíveis de trabalho, com divisão de tarefas e responsabilidades. Além disso, as empresas precisam apoiar trabalhadoras mães para que consigam cuidar e educar dos seus filhos, nesse momento de crise em que as escolas estão fechadas.
As mulheres foram as mais afetadas pela pandemia
Em 2020, a Think Olga promoveu uma pesquisa sobre os efeitos da pandemia e o que este momento de crise generalizada significou para a população feminina. O estudo teve como documento norteador a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (1995), principal marco na promoção dos direitos das mulheres durante a IV Conferência mundial sobre a mulher em Pequim, China. O levantamento focou em três eixos de observação: Violência, Economia e Trabalho, e Saúde.
Neste estudo a Think Olga apresenta dados do IBGE e aponta que o Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas que sobrevivem abaixo da linha da pobreza, com uma renda média mensal de R$ 145. As pessoas mais afetadas são mulheres, negras, mães e chefes de família.
As mulheres, principalmente as mulheres negras, são as mais afetadas e enfrentam uma forte vulnerabilidade econômica. A crise acentua desigualdades e é campo fértil para violações de direitos, com aumento de jornadas triplas de trabalho (trabalhos domésticos e do lar), desemprego e aumento do trabalho informal.
“Para a Organização Mundial do Trabalho, o novo coronavírus pode resultar em até 25 milhões de desempregados do mundo. No Brasil, o final do primeiro trimestre de 2020 já contava com 12,85 milhões de desempregados.”
IBGE
A crise está só no seu começo e a instabilidade social e política que passamos, especialmente no Brasil, indica um futuro repleto de inseguranças. Neste momento, é preciso reivindicar a construção de políticas e adotar medidas de compensação direta e benefícios para trabalhadoras, incluindo profissionais da saúde, trabalhadoras domésticas, migrantes e dos setores mais afetados pela pandemia (THINK OLGA, 2020).
Mais do que nunca, é preciso unir forças e pautar medidas mitigadoras para enfrentar os problemas suscitados pela crise. Mulheres do Brasil e do mundo, uni-vos! “A revolução será feminista (ou não será)”.
Saiba mais
A organização Think Olga é uma iniciativa voltada a sensibilizar a sociedade para as questões de gênero e intersecções, além de buscar promover ações que conscientizem as pessoas a serem agentes de mudanças na vida das mulheres. Achou interessante, acesse: https://thinkolga.com/