No último sábado, 6 de maio, foi realizado o encerramento da primeira edição do Laboratório de Ação Climática em Olinda. O Lab Tempestade, uma iniciativa conjunta do Instituto Procomum, da Global Innovation Gathering e da Casa Criatura, chegou ao fim com grandes conquistas.
Quem diria que em tão pouco tempo seria possível reunir um grupo de pessoas motivadas e dispostas a pensarem soluções para enfrentar as crises causadas pelas mudanças climáticas. O Lab Tempestade foi lançado com um desafio e tanto: reunir essas mentes inquietas e criar um ambiente propício à co-criação e colaboração.
No dia 18 de março, o Laboratório de Ação Climática foi lançado, reunindo instituições, representantes do governo e da sociedade civil para abordar um assunto urgente: priorizar o clima e intervir de forma efetiva contra os efeitos das mudanças climáticas. A divulgação de uma chamada pública atraiu mais de 70 inscrições em tempo recorde, provenientes de 50 bairros da região metropolitana do Recife.
As parcerias estabelecidas desempenharam um papel fundamental no sucesso deste projeto. O Instituto Procomum traz consigo uma vasta experiência na promoção de projetos colaborativos. Ao longo dos últimos sete anos, eles testaram diversas metodologias para ativar redes locais e unir agentes de mudança, especialmente por meio de seu laboratório cidadão em Santos, São Paulo, uma peça-chave no acompanhamento das iniciativas em Olinda.
A Casa Criatura, por sua vez, possui uma habilidade especial na criação de espaços que estimulam a imaginação e a criatividade, sendo um verdadeiro centro de inovação e economia criativa. Isso permitiu a criação de ambientes abertos para discussão de ideias e o surgimento de soluções criativas para os problemas enfrentados.
Por fim, a Global Innovation Gathering tem se consolidado como uma rede internacional dedicada a promover a cooperação entre diversas iniciativas em todo o mundo. Baseando-se em valores que apoiam o conceito de conhecimento aberto e inovação cidadã, a rede desempenhou um papel crucial na conexão de diferentes esforços e na troca de experiências que foram enriquecedoras.


Durante a execução do projeto, foram organizados dois encontros presenciais de imersão em abril, criando um ambiente propício para a colaboração e aprimoramento das ideias. Além disso, um calendário de mentorias online foi estabelecido para fornecer suporte na conclusão dos protótipos desenvolvidos pelos 30 bolsistas participantes do Lab. Essas mentorias foram essenciais para garantir o acompanhamento e o aprimoramento dos projetos em andamento.
O ponto de partida para uma rede engajada em prol do clima: semeando as bases para um futuro sustentável
Achou que o Laboratório de Ação Climática terminaria agora? Com o intuito de dar suporte às ideias geradas neste encontro, o Instituto Procomum se disponibiliza a dar oficina sobre captação de recursos para projetos, que deve acontecer no dia 26 de maio. Já a Global Innovation Gathering deve lançar informes sobre próximos editais e apoios a iniciativas maker e com viés socioambiental.
O encontro foi marcado pela apresentação dos resultados das cinco propostas montadas nesta edição.
Casa Guardiã: Um refúgio ancestral em busca de sustentabilidade e segurança alimentar
No projeto Casa Guardiã, Kadu inicia a apresentação e conta que a ideia do grupo surgiu da necessidade de preservar saberes ancestrais em territórios em disputa. A casa funciona como um espaço de cura e proteção para pessoas que possuem conhecimentos tradicionais alinhados com práticas agroecológicas e sustentáveis, como as mulheres parteiras no bairro do Coque.
A ideia é que haja mais casas guardiãs em territórios de disputa e promovam a conscientização sobre a importância de desenvolver projetos com esses modelos e valores. A comunidade de Fervedouro, que passou por processos violentos de usurpação de terras, e a do Coque, um dos maiores territórios indígenas em contexto urbano, foram os objetos de estudo. Os desafios do projeto incluem propor soluções para nutrição e segurança alimentar, falta de acesso ao cultivo de plantas e ervas e a replicação do modelo de casa guardiã em territórios em disputa.


O projeto da casa está pautado na construção de uma estrutura com materiais naturais, como bambu, palha e taipa, visando uma abordagem sustentável e de baixo impacto ambiental. Também foram apresentados módulos triangulares e a possibilidade de construção de jardins suspensos com reaproveitamento da água.
Durante a apresentação, o público presente ressaltou a importância dos projetos agroecológicos e a necessidade de conscientizar as comunidades sobre segurança alimentar. Quanto à implantação e governança nas comunidades, é destacada a importância do diálogo com a comunidade, promoção da sua autonomia e identificação de pessoas interessadas em gerir o espaço de forma compartilhada e autogerida.
Desenvolvimento de Dispositivos Inovadores para Proteção e Prevenção: Capa Salve-se e a mudança de paradigmas
No grupo voltado ao desenvolvimento de dispositivos de proteção, Mel inicia a sua apresentação com uma pergunta para reflexão sobre a mudança de paradigmas em relação aos fenômenos naturais. Ela destaca que as populações mais pobres e vulneráveis têm sido as mais afetadas pelos desastres climáticos e vivenciam medo e ansiedade em relação a esses eventos.
O protótipo chamado “Capa Salve-se” busca agir tanto de forma preventiva quanto durante a emergência, auxiliando as famílias a salvaguardar seus bens e patrimônio de maneira mais ágil e segura. Os desafios incluem garantir a impermeabilidade e desenvolver um sistema de vedação eficiente, além de explorar diferentes materiais e formas de armazenamento das capas. O protótipo foi desenvolvido na universidade e apresenta como mockup um mecanismo de envelopamento com material kraft sanfonado e presilhas para fechamento. As diretrizes futuras deste projeto incluem o uso de materiais recicláveis, reaproveitamento de materiais e a produção em escala real.



O grupo acredita que o impacto socioambiental da iniciativa é relevante, uma vez que mais de 50 bairros estão localizados em áreas de planície, primeira área de atuação deste protótipo. Durante a apresentação, o público reforçou aspectos como o tempo de teste das capas na água, estudos econômicos para implementação em determinados territórios e sugestões de materiais subaquáticos utilizados por iniciativas de mergulho como formas de implementar as ideias do grupo.
Cuidado pelo Clima: acolhimento e bem-estar para ativistas do clima
Débora inicia a apresentação do grupo e aponta como solução inovadora o desenvolvimento de espaços de acolhimento e cuidado acessível para os ativistas climáticos.
Com base nos pilares da empatia, respeito e colaboração, o grupo propôs um método de conexão e acolhimento que visa proporcionar bem-estar e prosperidade aos ativistas. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e construção de um roteiro para a vivência, que incluiu sessões de bioenergética, massoterapia coletiva e massagem facial. Foram envolvidas nove ativistas diretamente beneficiadas, de três municípios e sete bairros.
Os aprendizados obtidos durante o protótipo enfatizaram a importância de sistematizar os encontros, contratar profissionais especializados na área de Psicologia e mapear previamente os participantes da vivência. Além disso, o projeto ofereceu uma oportunidade de mudança de perspectiva social, incentivando o autocuidado e a saúde mental.

Durante a apresentação, foi exibido um vídeo sobre a vivência realizada, e o público colaborou com perguntas e sugestões. Houve destaque para a disponibilidade da metodologia documentada e a possibilidade de replicação, bem como a importância de ampliar e multiplicar essa ação para fortalecer líderes sociais e ativistas. Sugestões de criar uma plataforma acessível e itinerante também foram mencionadas.
Observatório Tempestade: Mapeando Iniciativas Climáticas
Renato inicia a apresentação do grupo, cujo propósito é criar um observatório para mapear ações e estudos relacionados às mudanças climáticas. A plataforma servirá como um repositório de pesquisas e soluções, tornando-se um espaço acessível e colaborativo.
Um dos objetivos do projeto é impulsionar a economia solidária no território e dar visibilidade a projetos de coletivos, líderes e ativistas nas áreas mais vulneráveis.O observatório será uma interface entre iniciativas bem-sucedidas, que poderão ser replicadas por outras comunidades. O sistema contará com cadastros de pessoas e projetos, alimentados pelos próprios usuários, além de informações sobre leis e ações públicas que possam auxiliar essas iniciativas.

A equipe está em articulação com a APAC para obter uma API que permitirá a apresentação automática dos dados em outros sistemas digitais. Dois mapeamentos estão em andamento: a existência de hortas urbanas e o monitoramento do despejo de esgotos nos oceanos, ambos em colaboração com os usuários.
Durante a apresentação, o público contribuiu com perguntas e sugestões. Foram mencionadas a importância de um método de busca ativa, a possibilidade de incluir um canal de denúncias e a utilização de exemplos como o Mapa Cultural, que utiliza software livre e pode ser replicado no projeto. Recursos como a API de georreferenciamento do Google e a tradução automática também foram sugeridos. A equipe deve trabalhar com código aberto e o OpenStreetMap.
PCAM: comunicação e estratégias para enfrentar os desafios climáticos
Joice Paixão inicia a apresentação do projeto. O grupo já atua na Várzea, bairro do Recife, e lida com as dificuldades do território, especialmente em situações de emergência. A falta de um plano de contingência e de informações úteis em momentos de crise climática foi uma das principais motivações da iniciativa.
Foram desenvolvidos diversos produtos de comunicação adaptados às necessidades da comunidade. Isso inclui impressão de cartazes, oficinas de monitoramento voltadas para crianças de 5 a 12 anos, comunicação nas redes sociais com uma linguagem jovem e localizada, e um sistema de comunicação por meio de bicicletas de som.
O plano do projeto inclui áreas de planície e encostas. Foi criada uma cartografia e maquete da Várzea para mapear as necessidades do território. O objetivo é envolver as crianças na construção das necessidades, desejos e perspectivas futuras da própria comunidade. O grupo também apresentou vídeo da campanha “Se liga aí, bença”, com influenciadores e informações úteis para a comunidade.


Durante o processo, o projeto trouxe aprendizados valiosos, como a conscientização social e a troca de conhecimento com as crianças. Além disso, o projeto aumentou a autoestima do bairro e mobilizou voluntários para a aplicação das ações. O protótipo foi aplicado na Vila Arraes e pode ser replicado em outras comunidades de baixo custo.
Durante as perguntas e colaborações do público, foram discutidos os próximos passos do projeto, a sugestão de utilizar o WhatsApp para divulgar áudios, a possibilidade de buscar diferentes fontes de financiamento, a criação de um calendário de atividades e as dificuldades de comunicação com a comunidade, abordadas com estratégias de aproximação por meio de necessidades básicas.
Lab Tempestade: um movimento de inovação cidadã a favor do clima
A primeira edição do Lab Tempestade em Olinda encerrou com boas expectativas e inspirou ideias promissoras para o futuro. Marina Paes, representante do Instituto Procomum e coordenadora da ação, esteve presente no evento de encerramento e compartilhou as expectativas da organização que representa. Apesar do desafio de realizar o projeto em um espaço de tempo tão curto, Marina enfatizou que a parceria entre as instituições envolvidas fortaleceu-se ainda mais durante o encontro presencial e nas atividades de imersão realizadas em abril. Segundo ela, o encontro proporcionou uma compreensão mais profunda das energias e intenções das pessoas e iniciativas envolvidas. Em relação aos projetos que surgiram nesse laboratório, Marina expressou sua satisfação em receber propostas que atendessem aos anseios das comunidades locais:
Aguardávamos por propostas alinhadas com os desejos e necessidades das comunidades. Foi extremamente positivo encontrar pessoas que trouxeram uma visão abrangente a partir de seus territórios. Acreditamos que a metodologia aplicada pelo laboratório tem o potencial de criar conexões e transformar esses desejos latentes em ações concretas em cada localidade
Marina Paes, coordenadora do Lab Tempestade.
Em seguida, representantes da Casa Criatura falaram da experiência de colocar em prática metodologias colaborativas para solucionar problemas reais vividos pelas pessoas em seus diferentes contextos sociais. Isac Filho, um dos idealizadores da Casa Criatura, relembra com emoção sobre as adversidades enfrentadas desde o início da pandemia da covid-19. Durante esse período desafiador, a Casa Criatura mostrou resiliência e agora busca contribuir com outra questão igualmente urgente: o clima
Participar do Lab Tempestade foi uma experiência incrível! Nós, da Casa Criatura, nos sentimos honrados de ser espaço e templo de criação para juntar gente, aqui em Olinda, que é um município tão afetado pelas mudanças climáticas e nesse espaço co-criamos soluções, num ambiente aberto ao conhecimento. Redefinimos o paradigma de fazer projetos. E a colaboração para nós se configura como um modelo potente para solucionar problemas reais
Isac Filho, idealizador da Casa Criatura
Juliana Rabello, coordenadora do Laboratório de Inovação e Criatividade da Casa Criatura, esteve à frente das operações do Lab Tempestade e destaca que essa ação não marca apenas um começo, mas sim um meio de fortalecer as iniciativas já existentes na Casa, com uma energia que se alinha à proposta local.
A Casa Criatura tem como propósito ser um espaço: um espaço para compartilhar, conviver e unir esforços na busca por soluções. Iniciativas como o Lab Tempestade potencializam nossos desejos e valores. Sinto que obtivemos resultados extremamente positivos e consigo visualizar como as pessoas imprimiram suas essências em cada solução
Juliana Rabello, coordenadora do Laboratório de Inovação e Criatividade na Casa Criatura
Rayane Aguiar, integrante da Casa Criatura e coordenadora local do Lab Tempestade, compartilhou os desafios e expectativas do projeto. Ela destacou que havia uma grande expectativa de quem estava nos bastidores que foi reunir diversos agentes sociais para enfrentar uma questão tão urgente.
Chegar a este evento final foi extremamente gratificante. Estou muito feliz em ver as ideias se materializando e em poder vislumbrar uma perspectiva de continuidade. Agora que temos clareza sobre as propostas de cada grupo em cada território e o suporte necessário para executar suas ideias, torna-se mais fácil aproximar iniciativas que estimulem esses projetos
Rayane Aguiar, coordenadora local do Lab Tempestade
Que seja apenas o começo!
A Casa Criatura desempenhou um papel fundamental como uma das organizadoras da primeira edição do Laboratório de Ações Climáticas em Olinda. O objetivo principal desse projeto foi promover eventos e debates sobre as mudanças climáticas, além de acompanhar ativamente a criação de protótipos de iniciativas impulsionadas pelo laboratório. Nesta edição, foram apresentados cinco protótipos inovadores, cada um deles agora seguindo um caminho independente em busca de apoio e continuidade para o que foi co-criado.
É importante ressaltar que essa ação contou com o apoio da fundação alemã Stiftung Nord-Süd-Brücken e do Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, além de contar com a co-realização do Instituto Procomum e da Global Innovation Gathering.
Acesse o album de fotos sobre a cobertura fotográfica do evento final aqui.