Dia 9 de fevereiro é comemorado como o dia do frevo! A data relembra o momento em que a expressão cultural é nomeada como tal. O nome frevo vem da corruptela ferver ou frever e foi cunhado em 1907, pelo jornalista Oswaldo Almeida do Jornal Pequeno.
Ah… quem dera poder celebrar este dia em meio aos blocos e troças carnavalescas, pular e cambalear ao som contagiante da orquestra do frevo de rua, não é verdade? Esse ano está diferente, não haverá Carnaval. Ele foi suspenso em Pernambuco por causa da covid-19.
Não podemos aglomerar como de costume. Nem por isso vamos esquecer o que tanto enriquece a nossa cultura: as suas manifestações. Como já dizia Nelson Ferreira, “Quem tem saudade não está sozinho, tem o carinho da recordação”. E temos o carinho de recordar o frevo e suas idiossincrasias como elementos que nos constituem.
O frevo surgiu ainda no final do século XVIII como um dos primeiros gêneros musicais carnavalescos criados no Brasil. Desde então, apresenta-se como uma expressão cultural completa, que reúne coreografia, melodia, ritmo e uma forma singular de unir poesia à forma de se expressar do seu povo. A manifestação nasce na rua, sua raiz é o povo. O frevo é alegria e resistência, a expressão da massa, das camadas mais populares… que aos poucos é apropriada, passando a ser elemento de unificação entre as diferentes classes sociais. O frevo é, então, classificado como uma manifestação popular e torna-se símbolo da cultura pernambucana.

Em 2007, a expressão cultural foi celebrada pelos seus 100 anos (desde que foi nomeada) e obteve o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que registrou o frevo como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Não demorou muito até que a expressão foi reconhecida em todo o mundo. Em 2012, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) reconheceu a importância do frevo e o registrou como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Pequeno Glossário do Frevo na Ponta do Pé
A receita para ser uma boa foliã e bom folião, é entender um pouco dessa magia que é o frevo. É preciso deixar-se tomar por aquela “embriaguez do frevo que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé” (Luiz Bandeira).
E para relembrar com (muita) saudade dos bons momentos que é pular o frevo no meio da rua ou no salão, confiante de que passará em breve esse momento que vivemos, listamos alguns símbolos e tipologias que perfazem o universo deste ritmo quente.
Dança
Algumas pesquisas apresentam que a dança surge com a capoeira, como movimentos de ataque e defesa, com passos firmes e agressivos (abre alas, rojão, tramela). Mas o fato é o que frevo é um apanhado de muitas referências. Segundo Valdemar de Oliveira (1985), o frevo recebeu influência da expressão russa (locomotaiva), eslava (carpado), dos musicais americanos e até da dança clássica (pontinha de pé).
O poder de fusão e criatividade do frevo não para por aí. A expressão é um reflexo do cotidiano das pessoas que compõe o frevo e muitas coreografias reproduzem objetos deste cotidiano, como a dobradiça, o alicate, a chave de cano, o serrote, a tesoura, o ferrolho, o parafuso, o martelo e a britadeira.
E para ilustrar essa energia de dançar o frevo, trazemos à cena os Guerreiros do Passo, um grupo formado por profissionais, mestres, dançarinos e amantes do frevo. O grupo, antes das medidas de isolamento social, costumava dar aulas gratuitas no bairro do Hipódromo, no Recife. Tudo por amor ao frevo.
Tipologias
Frevo de Bloco
É o tipo do frevo mais lírico do carnaval pernambucano, com instrumentos de pau e corda, melodias e danças mais amenas, ou seja, há menos explosão como é o frevo de rua. João Santiago nem sabia lá o que é isso, mas já dizia: “Deixa o frevo rolar, eu só quero saber se você vai ficar. Ai meu bem sem você não há carnaval, vamos cair no passo e a vida gozar”
Frevo Canção
Trata-se de uma adaptação do frevo de rua. Este tipo é acompanhado de uma melodia com letra, mínimas diferenças musicais e possui um ritmo mais lento. Quem não se emociona ao escutar o Hino dos Elefantes de Olinda quando declama o seu amor pela cidade:
“Olinda, quero cantar. A ti, esta canção: teus coqueirais, o teu sol, o teu mar. Faz vibrar meu coração. De amor a sonhar, minha Olinda sem igual. Salve o teu carnaval”
Frevo de Rua
Tipo do frevo que é marcado por uma condução apenas instrumental, tocado e dançado nas ruas e ladeiras da nossa querida Olinda. O frevo de rua é o tipo mais incandescente, de rápida execução musical. É difícil permanecer parado ao escutar um frevo de rua. O corpo mexe involuntariamente. Se você já veio a Olinda, em tempos de folia, me diga então como escutar um Vassourinhas e não balançar o corpo?
Objetos e Artefatos
Sombrinha
O guarda-chuva ou sombrinha, conhecido de início como chapéu de sol, é citado por pesquisdores como uma arma, pois era um instrumento perfurante que servia para defesa O guarda-chuva é um elemento que caracteriza o passista, desde as origens do frevo e tinha por função ser uma arma disfarçada do passista solitário. Hoje é usada como elemento estético e como símbolo-ícone de Pernambuco. Fonte: IPHAN (2016).

Porta Estandarte
O estandarte é um dos primeiros e mais importantes meios de expressão visual do frevo. Ele é uma bandeira que identifica as agremiações (troça ou clube), com seus nomes, cores, ano de fundação, ano de confecção do estandarte e símbolo. Seus ancestrais remetem às conformações da heráldica, desde a Idade Média. Fonte: IPHAN (2016).
Museu do Frevo
Em 2014, foi inaugurado na cidade do Recife o Paço do Frevo. Trata-se de um espaço dedicado à difusão, pesquisa, lazer e formação nas áreas da dança e música do frevo. Com as medidas de isolamento social, o espaço ficou fechado para visitação, mas reabriu e atende ao público, com todas as medidas sanitárias para evitar o contágio e contaminação da epidemia.
Mas se você é uma daquelas pessoas cautelosas que gostaria de ficar em casa e não perder a oportunidade de saber um pouco mais sobre o frevo e sua história, você pode fazer uma visita ao Museu Paço do Frevo pelo Google Arts and Culture. Aproveita e dá uma passeada por lá!
Souvenir Digital e o Frevo: uma combinação de “perder os sapatos”
A Souvenir Digital é um projeto idealizado por Juliana Rabello para valorizar o Patrimônio Material e Imaterial das cidades, por meio da recriação de ícones e símbolos da cultura local, através da fabricação digital.
Juliana defende que a preservação do patrimônio, seja material ou imaterial, passa antes pela assimilação dos símbolos e pela continua valorização dos seus conteúdos. O conhecimento e a apropriação consciente pelas comunidades do seu Patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania. Quando um artefato atrai atenção e ajuda a contar a história por trás daquilo que representa, tem-se não apenas um souvenir, mas uma ferramenta de educação patrimonial:
“Entendemos que, não se preserva o que não se conhece. A Souvenir Digital visa dar luz ao Patrimônio Histórico e Cultural, por meio da fabricação de souvenires que retratem e edifícios, símbolos e manifestações culturais, como o frevo.
Souvenir “Que Passo é esse” Souvenir “Que Passo é esse” Souvenir “Que Passo é esse”
Neste sentido, a souvenir elaborou uma coleção inspirada nos passos de frevo chamada “Que passo é esse”, aproveitando sobras de materiais do Lab Criatura. Saiba mais, acesse.