A Casa Criatura na Ribeira recebe mais uma iniciativa parceira, a holos – espaços de compaixão. Idealizada pela antropóloga Mônica Rangel, a holos surge como um ambiente de debate, reflexão e de estímulo ao sentimento de compaixão como uma prática de vida.
Holos é uma palavra grega e quer dizer “todo, inteiro, conjunto”. Esta ideia deu origem ao holismo, um conceito filosófico ligado à totalidade. A primeira pessoa a pensar sobre a totalidade das coisas foi o filósofo grego Aristóteles, quando afirmou em sua obra Metafísica que “o todo é maior que a soma das partes”, caracterizando o pensamento de um sistema complexo, não reducionista, no qual o todo transcede as suas partes separadas. Segundo o pensamento holístico, o todo se constui pela relação entre as suas partes. É, portanto, um sistema relacional cujo conhecimento de si só acontece pelo (re)conhecimento e interação com o outro.
A idealizadora da holos, Mônica Rangel, é antropóloga e especializada em psicologia junguiana. Em entrevista, ela nos contou como foi a construção deste projeto. Mônica estudava arquitetura quando decidiu transitar da arquitetura para as ciências sociais e seguiu com um mestrado em antropologia. A arquitetura foi a sua primeira jornada acadêmica e, certamente, contribuiu para sua visão crítica sobre espaço social. Mas, neste percurso, estava a antropologia para repensar o “espaço” por meio das “pessoas” que o integram. As primeiras ideias sobre a holos, como espaço para cultivar a compaixão, surgiu ainda na universidade.
Diário de acompanhamento dos processos. Foto de Luma Torres. Mônica Rangel, idealizadora da holus. Foto de Luma Torres. Exercícios dos Espaços de Compaixão
Mônica participou de um projeto de extensão da UFPE coordenado pela professora Conceição Lafayette, chamado “Práticas sociais para a compaixão no cotidiano, exercitando a capacidade de se colocar no lugar do outro”. Tratava-se de um experimento cujo propósito foi desenvolver práticas educacionais para o cultivo da compaixão nas relações entre estudantes. O projeto aconteceu numa escola pública do Alto de Santa Terezinha e envolveu crianças e adolescentes, de 4 a 12 anos de idade. Desde esta experiência, Mônica não parou sua busca em entender a compaixão e como ela poderia colaborar na construção de uma coexistência mais saudável. A pesquisadora desenvolveu um método, que pode ser aplicado tanto a grupos quanto a indivíduos.
Com formatos diferenciados, a holos propõe projetos de intervenção, consultoria, workshops, palestras e ciclos individuais para o cultivo da compaixão. Os encontros integram um processo de pesquisa contínua, e buscam debater sobre o que as pessoas entendem pelo tema, quais as suas convicções, o que elas valorizam e o que buscam melhorar em si mesmas. Por ser um trabalho de campo etnográfico seguido de intervenções, inclui atividades de observação, entrevistas, compartilhamento de histórias de vida e grupos focais.
Espaços de compaixão holos Espaços de compaixão
O pensamento sobre a compaixão como um conceito estritamente religioso é algo que Mônica busca desconstruir neste trabalho. O tema é tratado de forma abrangente por meio de debates filosóficos, práticas de meditação, contemplação e discussão sobre arte, e também pelo compartilhamento de vivências e perspectivas de vida de quem participa dos encontros. A holos desenvolve uma série de atividades que visam potencializar a capacidade das pessoas para relacionar-se de forma respeitosa, compassiva e integradora. Diferente da psicoterapia, mas dialogando com ela, Espaços de Compaixão são exercícios que aprofundam o olhar sobre nós mesmas e colaboram na construção de sentidos sobre a nossa existência em conjunto. Ao ser questionada sobre o método, Mônica fala que a escuta é um processo valorizado, mas a prática também consiste em manter e estimular diálogos. A sua observação não é passiva, mas participativa:
“Durante os encontros, eu me proponho a entrar na forma de vida das pessoas. Eu interajo, pois estar com as pessoas e cultivar uma construção coletiva é o que me encanta neste processo.(…) Entender que cada parte ali é muito importante para o todo. A antropologia é a minha casa, e a compaixão é a forma como busco habitá-la e me comunicar com o mundo”
Mônica Rangel

Por conta da pandemia, holos precisou se adaptar e os encontros têm acontecido de forma remota. Com a mudança para a Casa Criatura Ribeira, Mônica estuda os formatos de fazer atendimento no local: “A Casa Criatura dispõe de muitos espaços ao ar livre, o que permite realizar as práticas em grupo sem deixar de lado as medidas de segurança em saúde. E, em nossa sala, é possível também fazer atendimento individuais. Estou estudando todas as possibilidades.” Por enquanto, Mônica segue na reforma do espaço para deixá-lo apto à atender as necessidades sanitárias contemporâneas e, ao mesmo tempo, aconchegante.
Gostou dessa ideia? Quer trabalhar a compaixão como prática de vida? Acompanhe a holos no Instagram e marque uma visitinha para conhecer a iniciativa aqui na Criatura Ribeira. Como fala o nosso querido e terno Gil, o amor da gente é como um grão, que enfrenta percalços, resiste, aprende e se transforma para então germinar:
“Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há
De haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre e nasce trigo
Vive e morre pão”
Drão, de Gilberto Gil